As palavras estão à disposição de todas as
pessoas, é só consultar o dicionário e teremos o significado de cada uma. Mas
isso não é suficiente para tornar qualquer pessoa um escritor. Para escrever é
preciso antes muita leitura. Veja abaixo o artigo escrito por Paulo Sant’ana,
colunista do jornal Zero Hora, sobre a arte de escrever.
A arte de escrever
Existem os que
escrevem sem alma. E existem os que escrevem sem conteúdo. Conheço alguns
autores (livros) que não conseguem ser lidos em duas páginas por seus leitores.
O leitor lê algumas linhas e satura-se.
Tirei recentemente uma semana de férias e
tive ocasião, portanto, de ler todos os jornais do país. Vi algumas colunas de
jornal que são escritas há anos, todos os dias, e incrivelmente não são lidas
por ninguém. Se eu fosse um desses jejunos de leitura, se ninguém lesse minha
coluna, eu teria sido demitido no terceiro mês de trabalho. Pois há alguns que
escrevem por décadas sem serem lidos.
Agora, os meus leitores vão ficar
estarrecidos: há outros escritores e jornalistas que escrevem muito bem, têm
estilos faiscantes, mas seus textos carecem de qualquer importância porque não
possuem substancialidade, conteúdo. Conheço gente velha de tanto escrever que
nunca teve sequer uma frase recordada por seus leitores. O sujeito escreve anos
a fio e nunca desenvolveu sequer uma ideia; sempre seus textos são insossos,
descerebrados, anestésicos, de uma frivolidade anencéfala.
E é impressionante a facilidade que esses
pseudoescritores ou jornalistas têm para escrever. Aliás, eu sempre desconfiei
das pessoas que escrevem por empreitada. Escrevem tanto, que nem têm tempo de
pensar.
E para escrever bem é preciso pensar bem. A
maioria dos textos que leio (tento ler) não contém raciocínios. A pessoa vai
escrevendo ao sabor dos ventos, sem queimar nenhum dos seus neurônios, escreve
como se estivesse andando de bicicleta ou comendo gemada, sem ligação nenhuma
entre seu texto e a racionalidade construtiva.
Há centenas de medíocres entre as
celebridades. Assim como há, justiça a eles seja feita, milhares de anônimos
que nunca alcançarão a celebridade de tantos medíocres.
Já comigo se dá o seguinte: só leio quem tem
graça no texto, quem discorre o humor fácil. Só leio quem pensa e quem por isso
me ajuda a também pensar. Há burros que escrevem lindamente, cuidado com eles.
Assim como há inteligentes que não sabem escrever, tenho pena deles, são como
os mudos que não conseguem exprimir no momento exato da conversa a sua ideia
rutilante.
Escrever não é para qualquer um, nem para
determinados grandes jornalistas ou escritores.