
“Pestana era um popularíssimo compositor de polcas, no Rio de Janeiro. Se era um homem célebre por causa das polcas, sentia-se infeliz por não conseguir compor obras clássicas, nos moldes de Beethoven, Mozart, Chopin, etc. A popularidade de suas peças não lhe atenuava a frustração. Assim viveu até casar-se com Maria, uma viúva jovem, ainda que tuberculosa, e sensível amante de música.
Pestana acredita que agora poderá compor como os clássicos e decide criar um noturno em homenagem à esposa. Ao apresentar-lhe a obra, sem, contudo, revelar-lhe a autoria, leva um choque: ela identifica imediatamente o compositor do noturno: é Chopin. Pestana decepciona-se com aquilo que julga sua falta de talento e chega a pensar na morte. No entanto, é Maria que morre numa noite de Natal. Desesperado, ele pensa fazer um réquiem para a falecida. Trabalha na obra mais de um ano, mas também não consegue realizá-la.
Dois anos após a morte da mulher, o editor propõe um novo contrato, pois durante todo este período Pestana não criara nenhuma polca. Em dificuldades financeiras, ele aceita e recomeça a fazer o tipo de música que não gostava. O sucesso de suas composições continua: é o mais popular entre todos os criadores de polcas, porém isso não o torna menos infeliz.
Alguns anos depois, adoece gravemente. O editor, que não sabe da doença, vai pedir-lhe uma polca de ocasião: os conservadores haviam subido ao poder. Ao saber do estado de Pestana por um enfermeiro, embaraçou-se. Pestana insistiu para que ele dissesse o motivo da visita. O editor solicitou a polca para celebrar os conservadores. Olha, disse o Pestana, como é provável que eu morra por estes dias, faço-lhe logo duas polcas; a outra servirá para quando subirem os liberais.
Dita a única piada de sua vida, morreu no dia seguinte, às quatro horas e cinco minutos, bem com os homens e mal consigo mesmo."
Fonte da Imagem: Chá de Cérebro
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Catarino...
ResponderExcluirboa leitura aos homens de bem...
e celebres..
bjinhus, contos e machados
Lelli
Há pessoas inquietas, que nunca estão satisfeitas consigo próprias. Pretendem fazer melhor, chegar mais alto, mas não devem ficar presos às suas referências.
ResponderExcluirÉ um conto muito bonito e realista.
Abraços
Luísa
Há uma canção portuguesa que diz "amigo porque estás de bem como os outros e de mal contigo"
ResponderExcluirAbraços
Emilia
Quem vê meu perfil pode não perceber, mas amo o Machadão! Mesmo!!!
ResponderExcluirbj Dila
Catarino,
ResponderExcluirAdorei essa crônica.Se vc permitir publico lá no Compartilhando as Letras.Adoro o Machado de Assis.Excelente escolha.
Ótima descrição, já que o conto em si apresenta uma linguagem muito complexa. Adorei!
ResponderExcluirObrigada!
Ler é sonhar pela mão de outrem. Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo.
ResponderExcluir-- Fernando Pessoa
Otimo,otimo gostei d +!!!
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