Esta é uma história forjada na
mais pura ficção, qualquer semelhança com a pútrida realidade, é obra do mais
espúrio acaso. Desde a flor de sua juventude (uma juventude que ainda se fazia
plena em seu formoso corpo de mulher) que “D” gostava de política e de sexo
(não necessariamente nesta ordem). O “D” utilizado para representá-la poderia
ser um “D” de Demônio ou de Deusa, ou talvez Doce, Descarada, Devassa,
Discreta, Diabólica, Diva, Delicada, Destruidora, Donzela, Depravada, Dama,
Despudorada, Deliciosa, Delinqüente, Delirante, Dissimulada, Doida, Domme, ou
apenas um “D” representando o cargo político almejado por sua ambição.
Enquanto a ideologia política
arrastava “D” para encontros, debates, carreatas e manifestações públicas, o
meio erótico atiçava sua curiosidade e incendiava sua libido pelo proibido. Na
ciranda de livros e autores ela valsava com Marques de Sade, ao passo que lia
Marimbondos de fogo, A história de “O”, Anais Nin, Bukowski, entre outros, com
exceção do livro Filocalia (que talvez ela lesse apenas para fazer média com
algum colega partidário e influente, que porventura curtisse Opus Dei).
No inicio de sua busca pelo
conhecido mundo desconhecido do erotismo “D” visitou algumas casas de swing,
fez amizades no meio, até encontrar um “Dono” disposto a ensiná-la sobre BDSM
(conforme a Wikipédia trata-se de um acrônimo para a expressão "Bondage,
Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo"), introduzindo-a
de todas as formas nesta exótica arte. Ela, apesar de ter um gênio quase
indomável, se sujeitou por um tempo a submissão masoquista de escrava sexual,
entregando-se de corpo e alma aos caprichos de seu senhor, devidamente
torturada com velas (podendo até ser chamada castiçamente de mulher castiçal),
chicotes e tudo mais que pudesse ser usado para se alcançar o sumo prazer
através da dor.
Ela era uma mulher privilegiada
em todos os sentidos, um rosto inocentemente sensual em um corpo abrasador de
luxúria. Uma mente maquiavelicamente sagaz, e capaz de usar e abusar de quem
ela quisesse para alcançar seus propósitos, jogando fora, sem qualquer remorso
ou esforço, quaisquer amizades outrora conquistadas, quando estas não lhe
servissem mais, ou seja, o exemplar perfeito no contexto estereotipado do
perfil político brasileiro.
Entre encontros e desencantos,
ela finalmente achou um espírito que lhe servisse satisfatoriamente como alma
gêmea (compartilhando de seus extravagantes desejos), e se alçou ao ápice dos
dois mundos, seguindo entre a política e a lubricidade, brincando na tênue
linha que separa a superexposição e o recato de um com o necessário anonimato e
desenfreados despudores do outro. Misto de matéria e antimatéria seguindo de
forma paralela em sua vida. O mero toque entre essas realidades podendo causar
uma catástrofe inimaginável em sua imagem.
“D” achava que tinha tudo sob seu
total controle, suas festas eram feitas em sua moradia ou em clubes fechados,
ao passo que sua campanha também ia de vento em popa. Faltavam aproximadamente
dois meses para a eleição, quando o inesperado aconteceu, um incidente em outro
estado envolvendo uma menor de idade com um casal que aparentava ser praticante
de BDSM tomou conta dos noticiários do País. O caso incitou uma cruzada em prol
da moralidade em muitos recantos da Nação, e tudo que era carnal passou a ser
alvo de fervorosos grupos conservadores que resolveram agir para acabar com
toda e qualquer expressão que suas mentes pudessem conceber como perversão. E a
caça as bruxas teve inicio.
Silenciosamente como uma prece
sussurrada, devotados devotos do pudor começaram a vasculhar o mundo erótico em
busca de provas que pudessem ser utilizadas contra seus praticantes. O ano de
2012 era considerado por muitos como um estigma apontando para o fim do mundo,
e uma boa parcela desses muitos achava (ou queria por a culpa em alguém) que
isso iria acontecer por causa dos que consideravam depravados, ou de qualquer
um que destoasse de seus dogmas sa(n)grados.
Os prestimosos puritanos
começaram a se infiltrar em blogs, sites de encontros e redes sociais de todos
os tipos em busca de material que pudesse servir de arma, visando punir e com
isso salvar almas. Alguns desses indivíduos aceitaram se sacrificar,
mergulhando literalmente de corpo e alma no pecado, participando arduamente (ou
seria ardentemente?) de bacanais para ter acesso a tudo que por ali acontecia.
Em um desses encontros, em uma
festa só para casais, eles encontraram “D” em plena ação, um anjo promíscuo que
se destacava na multidão de corpos suados e gemidos abafados. A cena seria
apenas algo deleitavelmente pecaminoso se o seu rosto não fosse cada vez mais
publicamente conhecido. Com micro câmeras escondidas não se sabe onde (já que
todos estavam pelados) os fiéis moralistas gravaram cenas dignas do mais
intenso filme pornô, e em decorrência deste acontecimento fortuito obtiveram
imagens que foram divulgadas na web com o intuito de servirem como fato emblemático
na guerra contra a imoralidade.
Se fossem políticos, de qualquer
gênero, participando de orgias explícitas com o dinheiro público o assunto
seria banalizado e encarado como mais um dentre tantos casos de corrupção
endêmica já enraizadas em nossa cultura nacional, mas por ser uma mulher
concorrendo a um cargo público e sendo flagrada participando de orgias privadas
de sexo explícito o assunto passou a ser visto como de falta de decoro.
Poucos dias antes da eleição as
cenas (para alguns dantescas, para outros aprazíveis e para outros ainda
indiferentes) vieram a tona, estarrecendo, polemizando e escandalizando toda
uma sociedade acostumada a fazer, mas não a ver aquilo tudo daquele jeito e,
principalmente, tudo naquilo daquele jeito. O que aconteceu com “D”? A casa
caiu? O seu mundo virou? A Playboy lhe assediou? Isso somente um novo texto, se
um dia escrito, poderá nos dizer... FIM?
Autor: Antonio Brás Constante
Imagem: ChargistaBruno
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