Nunca irei esquecer o dia em que
pela primeira vez encontrei Mia. A minha camioneta avariou na sua aldeia e
imediatamente simpatizamos um com o outro. Eis a sua história.
A aldeia de Mia chama-se
Acampamento San Francisco e fica situada entre a grande cidade e as montanhas
cobertas de neve. Não é bem uma aldeia, mas é lá que ela vive. Não há belos
jardins, nem árvores. Não há estradas a sério, apenas um caminho em terra batida.
O pai de Mia vai todos os dias à
cidade vender ferro velho na sua camioneta. Noutros tempos, havia terras cultiváveis,
mas a cidade estendeu-se desmesuradamente e hoje só resta aquilo que é deitado
fora. As casas são feitas à toa, com toda a espécie de materiais que os
habitantes da aldeia recolhem nos locais onde o lixo da cidade é descarregado.
Todas as noites, Mia corre ao
encontro do pai que, às vezes, vem contente, com algum dinheiro no bolso, mas
outras vezes triste, de mãos a abanar. O pai sonha vir a construir uma casa de
tijolo.
Uma tarde, no início do outono, o
pai de Mia voltou com um sorriso estranho nos lábios. Abriu o blusão e saiu de
lá o focinho lindo de um cão! Tinha-o encontrado na cidade, sozinho e
abandonado.
Mia beijou logo o focinhito e
chamou-lhe Poco, por ser muito pequenino. Mostrava-o a toda a gente e depressa
se tornaram inseparáveis. Poco adorava a sua nova família: lambia continuamente
as caras de Mia e dos pais. Mia até apresentou Poco a Sancho, o cavalo, e o
cãozito seguia Mia para todo o lado, mesmo até à escola. Bem comportado,
esperava cá fora que as aulas acabassem.
Mas, naquele inverno, o frio era
intenso e um dia Poco desapareceu. Mia procurou-o por todo o lado.
— Acaso viu o meu cão? É
pequenino, castanho e com manchas — perguntava ela a todos.
— Olha, vi passar uma matilha
naquela direção — disse-lhe um homem, apontando para o lado da lixeira. — Pode
ter ido com eles.
Mia saltou para cima do cavalo, e
lá foram, ela e Sancho, à lixeira, procurar o cãozinho.
Mas, à medida que o procuravam,
iam-se afastando cada vez mais da aldeia. E, quando Mia se apercebeu, já se
encontrava no cimo de uma montanha muito alta de onde se podia ver a nuvem
negra que se estendia sempre sobre o vale. Mas, acima dessa nuvem, o ar era tão
puro que até lhe custava respirar! Tamanha brancura dava-lhe volta à cabeça!
Desceu do Sancho e pegou num punhado de neve que provou. E, depois, pôs-se a
dar cambalhotas naquele imenso tapete branco.
Sancho olhava para ela e não
tardou a imitá-la, rebolando-se na neve e pontapeando o ar com as suas velhas
pernas cansadas. A Mia, deitada de costas na neve, com os braços e as pernas
esticadas, nunca o céu tinha parecido tão azul e tão próximo.
Chamavam por Poco e procuraram-no
até cair a noite. Surgiram então as primeiras estrelas. Mia estava cansada, mas
confiava em Sancho: sabia que o cavalo havia de conduzi-la a casa, sã e salva.
Lá iam calmamente quando, de repente, Sancho parou para cheirar o chão. Mia
olhou em redor. Já não havia neve, apenas flores a perder de vista. Colheu um
ramo, mas com raízes. Aquelas flores iriam sempre recordar-lhe o dia em que
tanto tinha procurado Poco e acabara por encontrar aquele lugar maravilhoso,
sob as estrelas.
No dia seguinte, Mia plantou as
flores, colocando algumas em latas de conserva. Tratou delas e regou-as todos
os dias. As flores desenvolveram-se muito bem, crescendo vigorosas, e
alastraram durante o verão. No outono, o vento espalhou as sementes em redor da
aldeia, e estas rapidamente se multiplicaram. Na primavera seguinte, as flores
tinham invadido toda a aldeia e coberto as lixeiras de um manto branco, tão
branco como a neve das montanhas. Mia estava encantada, mas não esquecera Poco
por quem diariamente continuava a chamar.
Numa bela manhã, quando o pai
estava de saída para a cidade com uma carga enorme de objetos para vender, Mia
pediu-lhe que a deixasse ir também para tentar vender as flores. Tinha-as às
dezenas, plantadas em latas de conserva. O pai sorriu, mas deixou que a filha
tentasse a sorte.
Mia pousou as flores nos degraus
da catedral à beira do ferro velho do pai. E logo surgiram os primeiros
clientes, tão numerosos que o pai teve de largar o seu negócio para ajudá-la.
— Donde são estas flores? —
perguntavam as pessoas.
— São as flores do Poco —
limitava-se ela a responder.
Dali em diante, Mia passou a
vender flores com o pai. Como ele, também ela sonha em vir a ter uma casa de
tijolo.
Mas sempre que passava por uma
matilha de cães, Mia pensava em Poco. Até o dia em que um cão parou para vir
cheirar as flores. Lambeu-lhe a cara e deitou-se a seus pés.
— Estas são as flores que vêm das
estrelas — disse ela baixinho.
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Fonte: Clube das Histórias
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Caro amigo
ResponderExcluirSempre que dirigimos
os nossos pensamentos,
ao que acorda sentimentos bons
em outras vidas,
cada palavra escrita
é uma espécie de oração.
Que teu coração seja o céu
onde as palavras possa voar
buscando a esperança.
Aluísio
ResponderExcluirMuito obrigado por sua participação.