Daryl e John puseram as mãos
no ar.
A professora, a Srª Fuller,
ignorou-os. Eles tinham sempre uma resposta na ponta da língua. Mas quase nunca
era a que ela queria que a turma ouvisse. Olhou por cima das cabeças que
subitamente se puseram a estudar o assoalho ou à procura de algo nos cadernos.
— Algum de vocês sabe
definir justiça? — perguntou ela de novo.
Daryl e John continuavam a
abanar as mãos. Freneticamente.
A professora esperava
ansiosamente que mais alguém respondesse. Mas ninguém o fez. Suspirou.
— Tudo bem,
Daryl — disse ela. — Diz à turma o significado
de justiça.
— Justiça é o oposto de
injustiça — disse Daryl, olhando em volta à espera da risota que iria
seguir-se. O que aconteceu.
— Todos
calados! — ordenou a Srª Fuller. — Receio que isso não nos
diga muito, Daryl. Queres ser mais concreto?
A professora tinha uma razão
particular para falar de justiça naquele dia. Quando ia entrar no
estacionamento da escola, tinha visto Daryl e John e alguns dos seus amigos com
um ninho de pássaros. As aves-bebes estavam mortas no chão. Com um olhar
circunspecto, tinham-lhe jurado que nada tinham a ver com a morte dos
passarinhos, mas ela conhecia-os muito bem.
Costumavam rir-se dela, quando
pensavam que ela não estava a ver. Mas ela sabia. Deixavam penas na secretária,
e ela ouvia-os chamar-lhe a “Senhora dos Pássaros” ou “Velha Gralha” quando
virava as costas. Mas não se importava. Ela amava as pequenas criaturinhas
indefesas.
De repente, ela deu-se conta
que o seu pensamento voava… Quando tinha estas ausências, os alunos diziam que
ela “tinha voado para o sul por causa do inverno.” Obrigou-se a voltar à sala
de aula. A turma estava a observá-la atentamente.
—Bem, Daryl, estou à espera de
uma resposta — disse ela.
—Eu já
disse! — respondeu Daryl. —Justiça significa que alguém recebe
exatamente aquilo que merece.
—Pois! — acrescentou
John — Como quando alguém mata alguém e depois tem de morrer por
causa disso.
—Pois! — concordou
Daryl. —É isso mesmo.
Os dois rapazes trocaram
olhares que indicavam que estava na altura de lançar o isco à professora.
—Por
exemplo — continuou John — vejam aqueles minúsculos
passarinhos que encontramos mortos no parque de estacionamento. Quem quer que
os tenha morto devia morrer de uma morte dolorosa. Nem sequer quero ver de novo
uma coisa assim. Se aqueles tipos tivessem aquilo que merecem, isso
sim seria justiça.
O tom meio a gozar, meio a
sério, provocou pequenas gargalhadas. Poucos eram os alunos que lamentavam
aquela rotina diária a que os rapazes expunham a professora. Esperaram todos
para ver qual seria a resposta dela naquele dia. Mas ela estava calada há tanto
tempo que começaram a pensar que tinha “voado para o sul” outra vez.
— Talvez tenhas
razão — disse ela finalmente. — Já nesta aula falamos de
como vocês se sentem quando, como adolescentes, passam por experiências
desagradáveis, coisas injustas, por causa da vossa idade, sexo ou cor. Por
vezes não têm mais controle sobre a injustiça da situação do que aqueles
inocentes passarinhos de ontem. Mas parece-me que aprender a dar valor a todas
as formas de vida é uma lição que alguns ainda não apreenderam. Talvez o
destino vos ensine aquilo que eu não fui capaz de ensinar.
A campainha tocou.
A turma formou fila em
silêncio pela primeira vez. A professora nunca antes tinha falado assim.
Ficaram de pé junto aos seus cacifos e observaram-na enquanto ela descia o
corredor e parava junto da porta de entrada. Daryl e John estavam pouco à
vontade. Esta não era a reação por que estavam à espera. Já não se sentiam tão
triunfantes como era costume.
— Vem
daí! — disse Daryl — Vamos procurar mais ninhos de aves.
John riu-se e disparou
corredor abaixo atrás do amigo. Lentamente, os outros foram-nos seguindo. A Srª
Fuller estava de pé junto à porta e os alunos passaram por ela, um atrás do
outro, de regresso a suas casas.
John e Daryl sentaram-se nos
degraus da escola que davam para a rua. Estranhavam a atitude da professora que
não parecia aborrecida com eles. Apenas olhava para eles.
— Vou mas é pôr-me a
andar daqui para fora! — disse John por fim.
Quando John se levantou, uma
pena esvoaçou até ao chão e roçou-lhe a face. Surpreso, olhou para Daryl. Este
estava a olhar para cima.
Ouviu-se um som alto e
sibilante enquanto dois enormes pássaros se precipitavam sobre os rapazes. Subitamente,
gritos encheram o ar, e os alunos que desciam a rua pararam a sua caminhada e
voltaram-se para trás. Estavam estáticos e incrédulos. Duas aves gigantescas
cobriam John e Daryl, golpeando-lhes a face.
A porta abriu-se e a
professora apareceu.
Daryl e John abanavam as mãos
no ar. Freneticamente.
Não havia nada que a Srª
Fuller pudesse fazer.
Voltou a entrar na escola, com
um olhar de tristeza na face.
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Fonte: Clube das Histórias.
Caro amigo
ResponderExcluirDesejo para ti
braços bem abertos
para receber com carinho
o ano que se aproxima.
Ele traz um presente:
- Uma vontade de que olhes
para alguém ou para alguma coisa,
com olhos de primeira vez.
Recebendo este presente,
as sementes de alegria que te habitam,
estarão recebendo seu melhor alimento,
e assim se transformarão em realidade,
perfumando sua vida e sua alma
com sua maravilhosa, única e infinita
essência de felicidade.
Um ano novo de olhares novos para ti.
Aluísio Cavalcante Jr.
Aluísio, muito obrigado, desejo que tenhas tudo de bom neste ano novo. Abraço.
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